E Fausto foi maior que Falcão, Clodoaldo, Zito? Sim, pelo conjunto da obra, dentro e fora do campo, maior que todos os centro-médios e volantes, de qualquer era. Bem amada a bola amada por Fausto.
A bola velha e esfiapada, o couro cabeludo, mal-amada, subiu que se viu de fora do Estádio, de qualquer mira amoitada em São Cristóvão, Rio de Janeiro. São Januário, estupefato, incrédulo, vaiou a bicuda à bangu, por serpentear a bola, como se balão a bola fosse, como se viva indomável fosse, o adversário e o parceiro que se lascassem.
Sibilou, lançou o bote, bateu envenenada feito cobra no peito de Fausto, a Maravilha Negra. O sopro do pulmão, na hora certa, o corpo formando um arco e o soro dosado em mililitros, fez Fausto controlar a bola no ar, matá-la em dois tempos nas coxas esquerda e direita e pisar na bicha, morta no chão, o pau nos olhos para mostrar.
* Maravilha! Maravilha! – cantou São Januário.
Precisou o passe à direita, Brilhante devolveu, levou a bola até Tinoco, recebeu, foi até Russinho:
* Faz o gol, meu filho.
Fausto autorizou o esquema tático com cinco atacantes no Vasco, no Barcelona e na Seleção Brasileira.
* Do meio para trás, deixa comigo, professor.
O racismo e a tuberculose consumiram Fausto. Desfilou tanta classe em amistosos, nos campos de Lisboa, que o jornal prometeu e fez, segundo ele, material receptivo, não vendo qualquer problema em Fausto não ser branco. Na Espanha, compararam seu suor enegrecido ao lombo de um cavalo depois da corrida.
Na Copa de 30, nosso time assustou Fausto:
* Jogo recuado aqui no Uruguai – explicava ao roupeiro –, porque nosso time só tem branquela. Gol contra nós, vão culpar o negão aqui.
Fausto, a Maravilha Negra, o jogador de futebol que brigou, xingou, cuspiu, reagiu ao preconceito dentro e fora de campo, correu por todos e contra todos, deixou-se vencer pela tuberculose ainda moço. Fosse vivo, a bengala a assegurar firmeza, pegava time grande ainda. Se queremos ganhar outra Copa, precisamos ressuscitar Fausto. Não sendo possível, devemos ensinar fausto a alguém.
Fausto dos Santos, ou simplesmente Fausto, a ‘Maravilha Negra’, nasceu em Codó, Maranhão em 1905, e morreu de tuberculose, em 1939. Jogou no Bangu, Vasco, Barcelona (Espanha) e Nacional do Uruguai. Foi campeão carioca pelo Vasco e da Catalunha, pelo Barcelona. Jogou a copa de 1930 pela Seleção Brasileira. Sofreu com o preconceito racial e o combateu com todas as forças. É um símbolo da causa negra.
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