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Não É Hora De Vender Petrobrás

Imagine que a Petrobrás venda R$ 30 bilhões em ativos e use o dinheiro para pagar a dívida. Reduzirá a dívida líquida para R$ 300 bilhões. Aí, o dólar volta a U$ 3,50. O que acontece? A dívida volta para R$ 330 bilhões.

Há sempre uma notícia geológica de centenas de milhões de anos para justificar descobertas de petróleo.

Quando a jazida contém bilhões de barris, você multiplica por cinqüenta e tem uma ideia da montanha de dólares, reais ou euros, movimentada em sua exploração.

Um pedaço vai para a corrupção e esta conta também é bilionária.

Nenhum número assombra no mundo do petróleo.

Com a descoberta do pré-sal, a maquininha da imaginação multiplicou tudo por 1.000 e o povo brasileiro, sob os olhos negros do óleo, passou a ser proprietário da primeira empresa trilionária do mundo, a Petrobrás.

A partir daí, tudo começou a fazer água.

A Petrobrás se endividou mais que devia.

Gastou com os empregados mais que podia.

Comprou o que não devia a preços avultados.

Besuntou empregados e políticos com corrupção.

Seus ativos foram depreciados.

Para sobreviver, vende seus equipamentos na xepa, a preços aviltados.

Vende jazidas do pré-sal e o denuncia como um malogro, politicamente endeusado.

Demite empregados.

Anuncia prejuízos bilionários.

É, meu caro leitor, o bilhão está de volta.

O brasileiro que subiu a montanha escura para avistar um lindo céu azul no horizonte, encontra, na volta, as estrelas sem brilho, derramadas no chão. O consultório ou, para os casos mais graves, o sanatório é, agora, seu refúgio.

Tô escrevendo isso aqui só para ver se a gente monta um roteirinho de esperança contra a insanidade e salva a Petrobrás.

Primeiro, vamos lá, a Petrobrás foi roubada e o roubo, em suas diferentes faces, está previsto no código penal. Aplique-se a lei. Prendam e resgatem o dinheiro, o meu, o seu, o nosso.

Segundo os delatores e as investigações, 2% do valor dos contratos se dividiam entre os partidos políticos e a propinocracia, a denominação que merece um grupo de empregados da burocracia estatal que mandava e roubava nos contratos. Alguns propinocratas, pelas contas que fiz, os mais espertos, receberam mais que os próprios políticos, os que os indicaram ou que os mantiveram. 'Um pra eu, um pra tu, um pra eu. Um pra eu, um pra tu, um pra eu'. Assim dividiram a propina. 

Lógico que nem o reles inocente vai acreditar que a facada na Petrobrás era de apenas 2% dos contratos. As empresas corruptoras são mais espertas que os políticos e os propinocratas. Elas acrescentavam mais que os 2% aos contratos porque seus departamentos de gestão da propina eram caros e a logística dispendiosa. Administrar contas no exterior exige esforços de suborno. O dinheiro cash não é fácil de conseguir. Depois, precisa de mala para transportar. Aluga jatinho. Uma vida verdadeiramente dura. Os contratos deveriam honrar esse ônus adicional. Muita gente envolvida, muita gente pra calar a boca, muita viagem, hotel e divertimento. Diria que a lógica empresarial do corruptor seguia, ou segue, a mesma técnica de divisão do dinheiro dos propinocratas: 'um pra eu, um pra tu, um pra eu'. Segue a vida.

Vamos partir desse ponto para construir um segundo ponto: a Petrobrás, que foi roubada, não foi toda roubada. Ela continua em pé.

Produz petróleo, gasolina, óleo diesel, gás. Bate recordes diários de produção. Se ela está dando prejuízo, segundo notícias, a sua produção, então, é deficitária?

Justo que assim pareça, mas não é verdade.

Os resultados operacionais da Petrobrás são amplamente positivos. Ela vem, faz quase dois anos, registrando resultados mensais positivos. São receitas acima das despesas, inclusive quando se contabiliza o pagamento dos juros da dívida.

Mas porque, então, só se fala em prejuízo da Petrobrás? Porque há muito interesse nessa narrativa, aqui e lá fora. O curso normal das empresas endividadas é vender seus bens e tem muita gente de olho neles, nos bens da Petrobrás.

Mas se a empresa vai bem nas operações, donde vem o prejuízo? A resposta está na contabilidade, não na produção de petróleo, gasolina e diesel, ou na despesa com funcionário e pagamento de dívida.

Quando o preço do petróleo cai, a empresa faz um ajuste contábil sobre as reservas comprovadas de petróleo, aumentando as despesas. Quando o preço do petróleo sobe, ocorre o contrário, ou seja, o ajuste contábil faz a receita crescer. Se o barril de petróleo voltar a cem dólares, a Petrobrás terá um lucro extraordinário. Percebeu?

Quando o dólar sobe, a empresa faz um ajuste contábil sobre sua dívida, aumentando as despesas. Quando o dólar cai, ocorre o contrário, ou seja, o ajuste contábil faz a receita crescer. 

Mas por que a Petrobrás tem dívidas, perguntarão os céticos? Porque a maioria das empresas grandes do mundo tem dívidas.  A Petrobrás precisa explorar o pré-sal. A dívida líquida da Petrobrás, inferior a U$ 100 bilhões, não é um monstro, para o patrimônio que tem. E não é um monstro, por outra razão: boa parte da dívida registrada em seu balanço foi muito útil ao Brasil. Ela surgiu da exploração do pré-sal e, claro, um naco menor, da corrupção. O pré-sal é responsável por 1,5 milhão de barris dia, metade do consumo nacional. Se estivéssemos importando esse óleo aí, a 50 dólares cada barril, haveria choro e ranger de dentes. Um problema muito administrável pela Petrobrás veio tranquilizar todo o Brasil. Lembre-se: o pagamento dos juros da dívida já está no resultado operacional, que fechou 2016 em R$ 17 bilhões positivos.

Mais duas despesas contábeis grandes são consequência dos ativos (bens) enormes da Petrobrás. 

Na primeira, a Petrobrás foi obrigada por auditoria 'independente', nem sempre imparcial, a reduzir o valor de seus ativos. A justificativa é o escândalo que invadiu a empresa. Reduzindo o valor do ativo, vem mais despesa pro balanço. 

Na segunda, a venda de ativos. O mercado de petróleo em crise, e nós resolvendo vender os ativos. Se um ativo está registrado em R$ 500 milhões e nós vendemos por R$ 200 milhões, o que acontece com essa diferença? Mais despesa.

Esse 'espanca a Petrobrás' diário favorece uma política de lesa-pátria e venda de patrimônio arduamente conquistado. Reduz um pouco a dívida, mas aumenta a despesa.

Um último raciocínio antes da conclusão: imagine que a Petrobrás venda R$ 30 bilhões em ativos e use o dinheiro para pagar a dívida. Reduzirá a dívida líquida para R$ 300 bilhões. Aí, o dólar volta a U$ 3,50. O que acontece? A dívida volta para R$ 330 bilhões. Uma especulação no mercado cambial e a contabilidade anula os efeitos da venda de bens.

Aquilo que está a parecer, então, uma belíssima engenharia financeira para recolocar a Petrobrás nos trilhos vai se revelar, lá adiante, como uma entrega fora de hora de patrimônio. Se a Petrobrás não soube comprar em tempos recentes, pagando mais que valia, como denunciam a compra da refinaria de Pasadena, não pode agora sair a vender na xepa, como vem ocorrendo.

Comprar mal é mau negócio, mas você tem o bicho ali, para domar e dar lucro. Pasadena, por exemplo, vem registrando lucro.

Mas, ao vender, acabou, fim.

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