Se há um pimpolho lindo, um bebê Johnson, que enche de orgulho os pais da administração pública, esse é o regime de contratação pública. Com o nome inspirado em dízima periódica, o rebento de nº 8.666 é saudado em desfiles dos tribunais de contas, consultorias, cursos, provocações do Ministério Público e decisões judiciais.
Não havendo ninguém a questionar se não é o tal bebê uma máscara a esconder a porta de entrada dos labirintos da corrupção, me pergunto: por que ocorre tanto roubo justamente sob seu reino?
Para fazer uma obra enorme, precisamos de centenas de licitações e contratos. Imaginem a tarefa de sincronizá-las todas em um único projeto. O que poderia ser feito em dois anos, gastam-se dez. O orçamento torna-se imprevisível e a papelada correspondente abre os escaninhos do roubo aos espertos. Quando se apuram as contas em observação da eficiência da coisa toda, já era Joãozinho.
Comprar projetos e objetos unicamente sob a pressão do preço é uma insanidade. Os projetos são inexecutáveis, canetas e cartuchos de impressora chegam sem tinta, os lápis quebram a ponta com facilidade, a torre cai. O que poderia durar dez anos, acaba em dois. Você já viu ponte sem rampa ou, tecnicamente, ponte sem encabeçamento? Você acha que algum maluco optou por dois contratos, um para a ponte e outro para a rampa, ou foi determinação ‘legal’?
Mas, hoje, falemos de criança e deixemos os assuntos mais sérios por conta dos adultos.
Não sei por quais cargas d’água, fui visitar uma escola de crianças na cidade satélite de Ceilândia, aqui na periferia do DF. Os meninos pararam as aulas (que desperdício!) para cumprimentarem aqueles homens e mulheres bem apresentáveis, os ternos esquentando os homens e os vestidos bem cortados realçando a beleza das mulheres.
Se você é uma criança que não nasceu em berço de outro, vai entender aqueles meninos. A presença de tantos ‘tios’ era uma oportunidade e tanto para resolver seus problemas, quaisquer que fossem eles.
Um menino grudou em meu paletó:
- Tio, eu não agüento mais comer sucrilhos.
Sem ter o que dizer ao menino, fiz de conta que não o vi. Mas aquilo ficou na minha cabeça e na minha boca, toda a viagem de volta. Procurei o secretário de Educação, logo que pude:
- Secretário, que porra é essa de sucrilhos?
- Que sucrilhos?
- Fui em Ceilândia e um aluno me contou que não agüentava mais comer sucrilhos!
- Ah, sim, fizemos uma licitação de merenda escolar, mas o tribunal exigiu que comprássemos tudo separado. Leite, biscoito, frutas, verduras, iogurtes, sucrilhos, para cada compra fizemos uma licitação diferente.
- Certo, e daí?
- Daí que aconteceu somente a licitação de sucrilhos. As outras estão enroladas há mais de ano.
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