Podemos não acreditar que é um gângster, apesar de ser gângster, porque votamos. Também temos amigos na padaria e na polícia. Não vamos fazer inimizade só porque o cara não paga imposto ou aceita um troco na blitz.
Você já aprendeu que o crime não compensa.
Papai e mamãe lhe contam essa ainda na barriga, antes de nascer.
As evidências são contraditórias. Os criminosos estão mortos, presos ou ricos.
Sempre vai haver alguém a lhe contar que foi o destino que levou o criminoso à morte, o azar à prisão e a sorte à riqueza.
Tipo não há o que fazer. Não há mérito no sucesso nem demérito no insucesso.
Pois não é assim que funciona. Nada é fácil. Nada nunca é tão fácil. Tem mais a ver com o gângster, o capo, ou patrón que escolheu. Pegou o errado, morreu ou foi preso. Pegou o certo, enriqueceu.
Todo este roteiro pode ser repetido na política, onde também morre gente, prende-se gente e se enriquece gente.
É que na política, tudo começa com a sua escolha.
Há bons e maus capos em todos os partidos.
Capos bons, mas capos; maus, mas eleitos.
Governar um Município ou um Estado cabe ao capo eleito pelo povo, que passa a ser o maior da localidade, até nova eleição.
Podemos não acreditar que é um gângster, apesar de ser gângster, porque votamos. Também temos amigos na padaria e na polícia. Não vamos fazer inimizade só porque o cara não paga imposto ou aceita um troco na blitz.
O dono da padaria tem um pequeno caixa à disposição e um policial um talão de multa. Só com isso, fazem uma barbeiragem danada.
Agora, imagine um capo prefeito ou um capo governador.
Ele tem milhões ou bilhões de reais à disposição.
Distribui o dinheiro público da forma que lhe aprouver.
Suas decisões tornam homens ricos e inimigos presos.
Seus espiões tornam homens mortos.
Podendo mandar e desmandar, por que fará outros ricos e não a si?
Se alguém vai matar para se beneficiar ou impor silêncio, porque não ele?
É neste momento que o capo fala:
"L'État C'Est Moi"
Ou "O Estado sou eu", na famosa declaração de Luis XIV.
Traduzindo Luis XIV, o capo quer dizer o seguinte:
"Não tem para ninguém. Quem vai mandar nesta porra sou eu!"
É quando o capo sai da esfera pública e vira um agente também no setor privado.
Roubar dinheiro público e se utilizar das instituições contra seus inimigos já não é suficiente. O capo precisa de novas iniciativas e estende os braços para o mundo privado. Cria as empresas que vão prestar serviço ao seu governo. Delega a amigos dirigi-las. Impede de funcionar empresas de inimigos e adversários. Escolhe os donos das concessionárias de automóveis, das redes de fastfoods e de todo mundo que queira botar algo para funcionar em seu território.
Ele ainda está na fase 'capo bonzinho', atuando nas vizinhanças do aparelho do Estado.
Finalmente, descobre o crime pesado. Gente má ganhando dinheiro em seu território, contrabandeando, roubando carros, sequestrando gente inocente, invadindo casas, esvaziando lojas e, o maior de todos os pecados, traficando.
Onde está o seu governo que não cobra nada?
Começa a exigir taxa dos criminosos em cada tipo de delito. Deixa a criminalidade correr solta em troca de dinheiro.
Money. Money. O dinheiro vem de tudo que é lado, mas ainda não basta.
Chama seu auxiliares e reclama que o tráfico não está contribuindo com os percentuais devidos.
Decide explorar a atividade diretamente.
Precisa matar um monte de gente, mas não se importa.
Vira o rei da coca. Compra aviões e helicópteros.
Viaja aos Estados Unidos pela primeira vez.
O mandato está acabando. Candidata-se à reeleição.
O povo agora é assaltado por uma nova dúvida.
É melhor continuar com esse ou começar tudo de novo com outro?
Uma dúvida e tanto.
Depois dizem que brasileiro não sabe votar.
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