O placar moral do jogo contra a Sérvia foi sete a um. O México que não se cuide. Ainda mais com aquele uniforme verdinho, imitando os alemães.
Apesar de estarem, geograficamente, mais perto da América do Sul, Panamá e Costa Rica jogam futebol parecido com o das regiões mais ao Norte do continente americano, tipo o dos EUA. Em alguns momentos, suas pixotadas com e sem a bola se assemelham àquelas praticadas no futebol canadense ou, até, alasquiano, se lá no Alaska existir futebol. Em resumo, o futebol no Panamá e na Costa Risca é de fechar os canais panamenhos e enfear as costas ricas.
Tomar de 6 a 1 de um time inglês apenas razoável , candidato a ficar entre os oito primeiros, se muito, não recomenda os panamenhos. A comemoração deles do gol feito contra a Inglaterra não passa de um divertimento lateral durante as profissionais e quase sempre suspeitíssimas Copas do Mundo da FIFA.
Torcedores pelo mundo, os panamenhos inclusive, estes quando participam da Copa, preparam o coração como se aguardassem a chegada do primeiro filho ou a primeira noite do casamento. Como se o futebol, sendo apenas futebol, e o gol, sendo apenas gol, substituíssem paixão, religião, civilização, cidadania, patriotismo.
Por isso que o jogo do Brasil contra a Costa Rica era, enfim, o refresco, o balde de água fria, a interrupção, o anticlímax, a vitória sem susto. Um jogo para anestesiar o coração do sofrido torcedor brasileiro e prepará-lo para embates mais duros; enfim, um contraponto à nossa nervosa estréia contra a Suiça.
Qual o quê!
O tempo passando e a bola não entra.
O tempo passando e a bola não entra.
Contra ataque deles e quase a bola entra.
Já no segundo tempo, o treinador Tite altera o time completamente. Colocou um atacante e tirou um volante. A bola não entrou. Tirou outro volante e colocou outro atacante. Teimosa, a bola não entrou. O juiz marca pênalti em Neymar e agora, finalmente, a bola vai entrar. O vídeo, o tal VAR, acertadamente, anula o pênalti.
A bola não vai entrar? Entram atacantes e saem volantes e a bola, neca, não entra. O juiz distribui cartão amarelo para Neymar e Coutinho. Passados noventa minutos, sossego zero, zero a zero, OXO e ROXO. Que jogo difícil! Que jogo complicado! O ansioso coração brasileiro prestes a explodir. Tragam um calmante!
No tempo do juiz, depois dos noventa minutos, Coutinho se infiltra, mete o bico e a bola entra. Logo depois, Douglas Costa deixa Neymar quase dentro do gol. A bola toca em Neymar e entra. UFA, duas vezes UFA.
Vencida a Costa Rica, feitas as contas, e como ela perdeu para todo mundo, precisávamos apenas de um empate contra a Sérvia.
A previsão agora era de um jogo duríssimo. Se a Costa Rica deu aquele trabalhão todo, imagine a guerreira Sérvia!
E se o zero a zero fosse até os noventa minutos e o biquinho salvador mudasse de lado e fosse contra nós?
Precisamos de um intervalo para narrar a completude do enredo desse jogo.
Se o Brasil ganhasse e ficasse em primeiro lugar, o mais provável é que pegasse a Alemanha no primeiro jogo da fase mata-mata. Então, um empate no nosso jogo e vitória da Suiça contra a Costa Rica nos deixaria em segundo no grupo e longe da – temida – Alemanha, responsável pelo nocaute mais duro em toda a história de nosso futebol, um sete a um em nossa própria casa, na última Copa do Mundo. Queríamos a vingança, mas lá adiante, não no início da Copa, para retardar, o máximo possível, um combate feroz que poderia antecipar nosso vôo de volta para o Galeão. Não fazia o menor sentido, tampouco, mandar os alemães para Berlim com tanta antecedência. Sem a Itália, que nem apareceu, e sem Brasil ou Alemanha, Copa perde a graça.
Mas esse temido cruzamento passou por um acidente de percurso. A desclassificada Coréia do Sul, duas horas antes de nosso jogo, enfiou dois gols a zero na Alemanha. Neuer, o goleiro alemão, foi brincar de atacante e perdeu a bola para um coreano. Ele chutou de lá mesmo, a bola voou pretensiosa e, perto de sair para a linha de fundo, encontrou-se com o atacante Son, que a empurrou para o gol. Esse foi o segundo. O primeiro foi acidental e sem graça, um número a mais, apenas, no placar. Deixe esse longe do texto, em paz.
Enquanto escrevo essas linhas, o avião alemão já deve ter se despedaçado em Berlim, por ter caído ainda na chave de grupos; e, sem o concurso do Brasil, diga-se de passagem.
Então, jogaríamos tranquilamente contra os sérvios. Ganhando ou empatando, era México ou Suécia nas oitavas. Cá para nós, seis é um, meia dúzia é outro; são velhos fregueses e sempre nos serviram muito bem, quando precisamos deles nas Copas.
Tranquilo em campo, o Brasil é um adversário perigoso. Nossa história nas Copas comprova isso.
Coutinho, como se fosse Gérson, lançou Paulinho que, como se fosse Jairzinho, encobriu o goleiro e marcou o primeiro gol.
Neymar, como se fosse Rivelino, cruzou para Tiago Silva que, como se fosse Pelé, cabeceou para marcar o segundo gol.
Um jogo sem susto para o Brasil. Com paciência, quando precisamos dela, e impaciência, quando o bom era acelerar o jogo.
Quase tomamos um gol, com boa defesa de Tiago Silva, mas perdemos vários, pelo menos cinco.
O placar moral do jogo foi sete a um. O México que não se cuide. Ainda mais com aquele uniforme verdinho, imitando os alemães.