O Instituto Nacional de Óleo e Gás da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, por meio de seus pesquisadores, calcula o pré-sal em 170 bilhões de barris de petróleo. Na parte que dá para fazer de bicicleta já encontraram 30 bilhões de barris. Que ninguém nunca ouse colocar essa riqueza à exploração que não no modelo de partilha.
Você já deve ter ouvido falar que, na guerra, a primeira vítima é a verdade.
A verdade é que no pós-guerra ela continua apanhando do mesmo jeito. Antes, também. Antes, durante e depois da guerra, como Geni, ela foi feita para apanhar.
Pegue o que ouviu falar sobre uma guerra qualquer, multiplique por 'menos um' e, provavelmente, a valer o axioma, você estará espalhando verdades por aí.
Não precisa nem estudar as cruzadas ou as aventuras romanas.
A guerra civilizatória contra o Iraque pretendia desmontar vasto arsenal biológico e nuclear e o que se viu por lá foi estilingue de ferro e marreta de madeira, bolinha de gude e pau a pique.
Mesmo na ausência de guerra, quando as posições estão assentadas em antagonismos fortes, a verdade, igualmente, apanha muito. Dizer que a verdade sempre vem à tona é grossa mentira. Não é incomum a morte alcançar antes a vítima da mentira. A verdade que vem para reparar a memória dos mortos descansa na hipocrisia. Os italianos Sacco e Vanzetti se sacodem na cadeira elétrica e vem a história declarar sua inocência vinte ou trinta anos depois. Deveriam nos dar a oportunidade de perguntar aos italianos o que eles acharam do baculejo e do sacolejo.
Desconfio do que está a ocorrer, verdadeiramente, na Venezuela. Alguns produtos estão faltando no banheiro e na mesa das famílias, é fato, mas o que é erro do governo, o que é boicote para derrubar o governo, não sei dizer. Movimentos como o dos caminhoneiros no Chile paralisando a circulação de mercadorias para derrubar Allende compõem a biografia de vários derrotados pelo mundo. É bom mergulhar para descobrir a verdade. E suspeitar.
Idem, em Curitiba. A parte da devolução do dinheiro é inegável e prender criminosos de alto calibre deixa pessimistas menos pessimistas. Mas a delação sob ameaça da prisão permanente envergonha a verdade. O antagonismo entre uns e outros não permite ver vantagem na devolução do dinheiro nem desvantagem na delação sob ameaça.
Os episódios passados vergaram tanto a verdade, que ela já deixou de ser relevante. Escravos de todo o mundo, contai-nos.
O antagonismo mais recente pode não trazer bons resultados para o Brasil.
É o caso do leilão do pré-sal.
Alguns vêem a participação de empresas estrangeiras atuando exclusivamente em áreas do pré-sal um crime de lesa-pátria. A posição de trincheira se justificaria porque o que a autorizou foi uma crise financeira da Petrobrás, trazendo as riquíssimas petroleiras globais para a exploração do pré-sal. Em caso de crise financeira aguda da Petrobrás, esta seria, então, expulsa do circuito pressalino?
A oposição viu derrota em tudo, mesmo onde ganhou. O lado do governo viu vantagem em tudo, mesmo onde perdeu.
Se teremos estrangeiros explorando o pré-sal sem parceria com a Petrobrás, para derrota da oposição e vitória do governo, em contrapartida, a maior parte do petróleo explorado será entregue ao país, por meio do regime de partilha, para vitória da oposição e derrota do governo.
Entregar excedentes do petróleo explorado para a União é o modelo de partilha, que foi o grande vitorioso dos leilões.
Em alguns campos, os excedentes que serão entregues ao país chegarão a 80%.
O excedente é calculado depois dos custos do desenvolvimento e exploração.
Façamos contas.
Um barril do petróleo pressalino tem custo de 8 dólares o barril, de acordo com os últimos relatórios da Petrobrás.
Para facilitar o exercício, vamos dar isso aí por 10 dólares.
O barril anda valendo 50 dólares (também um número redondo).
O Instituto Nacional de Óleo e Gás da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, por meio de seus pesquisadores, calcula o pré-sal em 170 bilhões de barris. Na parte que dá para fazer de bicicleta já encontraram 30 bilhões de barris. O número de 100 bilhões de barris é muito razoável para fazer contas, mas, em sede da segurança, vamos trabalhar com 50 bilhões (um número conservador tem mais chance de ser verdadeiro).
50 bilhões de barris a 50 dólares e chegamos a 2,5 trilhões de dólares.
Tira 20% dos custos de exploração e investimento e sobram 2,0 trilhões de dólares (chamados tecnicamente de excedentes).
Se a União fica com 70% disso pelo modelo de partilha, teremos 1,4 trilhão, para políticas públicas de educação e outras. É a nossa alforria de longo prazo.
Aí os lesa-patriotas de plantão querem vender este negócio por preço fixo, em regime de concessão, que é algo como pagar um ingresso de entrada e explorar à vontade.
E querem vender rapidinho, porque acreditam que os veículos elétricos vão tirar a era do petróleo da tomada. Não há nenhum estudo científico que ajude a alegação, mas o cara sai somando algumas coisas que vê na internet e, pronto, já tem o diagnóstico.
Não há como remunerar o país decentemente nos casos de grandes jazidas de petróleo por meio de concessão. Pois não há tanto dinheiro disponível no mundo e isso desvaloriza o bem a ser ofertado.
O regime de partilha existe para superar isso.
Explorou a jazida, é fértil?
Dê aqui a nossa parte.