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Porque O Economista Chora Enquanto A China Cresce

Vem aí um caminhão de bugigangas da China, que você não sabe para que serve nem quanto dura, mas compra. Se você comprou um leque chinês, está agora com as mãos abanando. E é melhor comprar outro. Se a China não cresce, o mundo fica de mãos vazias. E ainda tem uma muralha, que eles vendem que ela nos une.

Aquelas mães prolíferas que habitam o Nordeste sertanejo sofrem com as crianças esparramadas em suas canelas finas, umas reclamando da comida, outras da roupa, outras dos irmãos ou das irmãs mais velhas; para piorar, ainda subsistem as idiossincrasias dos caçulas, que não perdoam a comida, a roupa e, muito menos, os irmãos mais velhos.

Na China, as mães não podem ter muitos filhos, mas lá tem muita mãe, o que dá no mesmo.

Como no sertão, as praças das suas cidades, distritos ou vilas menores se enchem de gente, permitindo-se uma enchente de assuntos, jogos de mesa, tabefes infantis e outras confusões. Só não se pode fazer fofoca, porque espalha rápido; jogar dominó, porque falta pedra; xingar a mãe, porque estão todas por perto; brigarem as mães.

Tampouco o guarda pode resolver:

- Circulando, circulando.

- Pode me dar o caminho, seu guarda? Tá entupido, aqui.

Brasil e China procuram o seu caminho e cuidam de tanta gente de acordo com os seus recursos. Aqui, os programas de transferência de renda espalharam os amontoados nas praças sertanejas e mudaram as paisagens nas feiras. Pedinte agora compra verdura e leva troco para casa.

Lisboa, um economista para lá de ortodoxo, mercado na veia, reclamava do caminho adotado pelos chineses:

- Prestem atenção nesse gráfico: a classe média chinesa cresce dez milhões todo ano. O consumo tende à explosão. Isso é insustentável.

O consumo deve ser acompanhado de investimentos, se não os preços aumentam. Ele tinha razão.

- Agora, olhem outro gráfico – todo mundo estava atento -: a curva dos investimentos está alcançando trinta por cento ao ano. Se a China não andar mais devagar, vão faltar insumos, mão de obra e o dinheiro, claro, vai ficar mais caro.

Cara bom, ele. Os chineses precisam reduzir o ritmo de seus investimentos e um bom caminho é aumentar os juros básicos da economia. Prestemos atenção à aula:

- Aqui temos uma amostra da irresponsabilidade deles. Os juros básicos da economia foram reduzidos nos últimos anos. Os juros básicos servem para organizar o ritmo da economia.

Os chineses, pelo que estávamos vendo, queriam crescimento, mas este, presidido pela desorganização, traria caos. Os juros baixos poderiam afugentar a entrada de capitais e afastar instrumentos baratos de financiamento da economia chinesa. Voltemos ao Lisboa:

- As reservas em dólar que estão acumulando trarão problema para os chineses e para o mundo. Já são mais de dois trilhões de dólares. A economia americana ficará devedora de uma com outra referência política e isso é ruim para os EUA, para a China e para o mundo. Além disso, apreciarão sua moeda.

Com a apreciação da moeda, os produtos chineses ficam mais caros no mundo, o que prejudica as exportações. Já estávamos ficando apreensivos com os percalços da economia chinesa. Lisboa continuava:

- Olha o quadro das exportações chinesas: a economia mundial não vai suportar. O acréscimo anual chega a vinte por cento. Nós vamos ter que criar outro planeta para suportar as exportações chinesas.

Sabedoria pura, exportação é PIB na veia. É possível que a economia chinesa esteja, em sua totalidade, crescendo além da conta:

- Estão crescendo dez por cento ao ano. Se a China não parar, daqui a quinze anos, terão déficits gêmeos, inflação alta, concentração populacional nas grandes cidades, desemprego. Vai gerar uma crise fenomenal e, pior, arrastará o mundo.

Já estávamos quase convencidos. O rapaz, que passava a apresentação no computador, resolveu entrar no assunto:

- Dez por cento durante quinze anos, doutor Lisboa?

- Sim, rapaz – Lisboa riu.

- Mas, aí, a China será a maior economia do mundo.

- É provável.

- E todos nós vamos ajudar os chineses, como fazemos com os americanos, hoje. Tá com dor de cotovelo, hein doutor?

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